Do linho ao látex: os usos e composições desse antigo método contraceptivo.
Por Rainer Sousa
Posto como um dos grandes ícones do mundo contemporâneo, a camisinha ou preservativo é uma das mais conhecidas formas de prevenção contraceptiva existentes no mundo. Além disso, o emprego desse mesmo produto é recomendado por médicos na prevenção de várias doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a AIDS. Nos meios religiosos, vemos que o emprego do preservativo alimenta uma acalorada discussão sobre o lugar do sexo entre as comunidades religiosas.Apesar de tanta notoriedade, o preservativo é uma espécie de “novidade antiguíssima”. Há mais de três mil anos, os chineses fabricaram uma primeira versão feita a partir da combinação do papel de seda e a aplicação de óleos lubrificantes. Ainda entre os chineses, vemos a menção de preservativos femininos feitos com produtos de origem vegetal. Entre os gregos, relatos mitológicos e históricos falam do uso de bexigas natatórias de peixes e a bexiga das cabras como forma de método contraceptivo.
Entre a Idade Média e a Idade Moderna, temos a presença de alguns relatórios médicos que recomendavam a utilização de envoltórios penianos produzidos com linho. Além do tecido, recomendava-se a aplicação de substâncias supostamente medicinais. Chás de erva, absinto, urina, partes sexuais de animais eram alguns dos estranhos ingredientes sugeridos como forma de prevenção da sífilis, uma doença que aparece nesse tempo com os nomes de “mal francês” ou “mal napolitano”.
Na França do século XVII, as menções sobre o uso da camisinha como método contraceptivo aparecem, mas não com o intuito de se controlar a quantidade de filhos de uma família. A grande preocupação desse tempo, seja para o homem ou para a mulher, era evitar os infortúnios financeiros e sociais causados com os polêmicos filhos bastardos. Já nessa época, os preservativos (feitos de veludo e seda) eram vendidos de forma clandestina. Afinal de contas, os representantes da Igreja já condenavam o uso de instrumentos que burlavam os fins reprodutivos do sexo marital.
No século XVIII, as liberdades da Revolução Francesa e as promessas caóticas da teoria malthusiana serviram para que os preservativos fossem fabricados e comercializados em maior escala. Ao longo do século XIX, a descoberta dos usos da borracha e o processo de vulcanização permitiram que os preservativos fossem mais resistentes e maleáveis. Contudo, algumas farmácias dessa época comercializavam o produto de forma reaproveitável, com garantia de cinco anos.
Nas primeiras décadas do século XX, as situações de guerra e o preservativo entraram em franco combate. Na década de 1920, os preservativos foram severamente proibidos em terras francesas. O grande objetivo da medida era recuperar a população assolada com as baixas da Primeira Guerra Mundial e a terrível epidemia de gripe espanhola que assolou o Velho Mundo. A Europa precisava se reconstruir com o nascimento de novos braços, assim houve a suspensão da camisinha.
Em 1930 temos a fabricação das primeiras camisinhas descartáveis produzidas a partir do emprego do látex. Na Europa, a novidade se tornou um sucesso. Ao contrário dos Estados Unidos, onde a produção não teve o mesmo impacto no mercado consumidor. A partir da década de 1960, a impopularidade da camisinha se ampliou com a comercialização das pílulas anticoncepcionais. Com isso, as doenças sexualmente transmissíveis galoparam até os finais da década de 1970.
O triunfo do preservativo só aconteceu na década seguinte, quando a ação do vírus HIV obrigou milhares de pessoas a se curvarem a um novo processo de educação sexual. Nesse meio tempo, várias teorias fantasiosas visavam dispensar o uso da camisinha, posta ainda por alguns como um limitador da qualidade do ato sexual. Entretanto, sabemos que a preservação da vida e da saúde depende dessa “novidade antiguíssima
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